Manaus comemora a retomada logística após enfrentar uma estiagem histórica que paralisou o transporte de mercadorias na região. Após 78 dias sem atracação de navios devido à baixa dos rios do Amazonas, dois navios com 2.080 contêineres chegaram ao porto do Grupo Chibatão no dia 26 de novembro, marcando o reinício do fluxo logístico para a Zona Franca de Manaus (ZFM). Essa retomada é um marco não apenas para a logística local, mas também para a economia nacional.
O papel da Zona Franca de Manaus na Economia Nacional
A ZFM é essencial para a economia brasileira, representando um modelo de desenvolvimento regional sustentável e industrialização. Criada em 1967, ela incentiva a produção de bens industriais, principalmente no Polo Industrial de Manaus (PIM), que abriga mais de 500 empresas dos setores de eletroeletrônicos, motocicletas, químicos e informática.
A região é um exemplo de como políticas fiscais podem promover crescimento econômico em harmonia com a preservação ambiental. No entanto, eventos climáticos extremos, como a seca histórica de 2024, mostram a vulnerabilidade da logística local, princiapalmente as de contêineres, e a importância de soluções inovadoras para garantir a continuidade das operações.
Impactos econômicos da estiagem
A estiagem recorde de 2024 teve um impacto profundo na logística e economia da ZFM. Empresas do PIM enfrentaram custos adicionais de R$ 1,346 bilhão, incluindo aumento de taxas logísticas e a necessidade de adiantamento de estoques. A crise foi mitigada por soluções emergenciais, como a instalação de um píer flutuante provisório no município de Itacoatiara.
Em pouco mais de dois meses de operação, o píer flutuante recebeu 28 navios, movimentando cerca de 34 mil contêineres. Essa infraestrutura temporária, desenvolvida pelo Grupo Chibatão, garantiu o abastecimento de Manaus e reduziu os impactos econômicos e sociais causados pela seca.
A estratégia do píer flutuante em Itacoatiara
O píer flutuante de Itacoatiara, operando 24 horas por dia, foi uma resposta direta à estiagem. O projeto, idealizado no início de 2024, demonstrou ser uma solução eficiente para garantir o transporte de mercadorias via contêineres durante condições climáticas adversas.
A iniciativa foi possível graças à colaboração de diversas entidades, como a Marinha do Brasil, a Superintendência de Outorgas (SOG/ANTAQ), o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), a Suframa, o Dnit e a Receita Federal. A Marinha, por exemplo, emitiu autorizações fundamentais para a instalação do píer, reconhecendo sua importância estratégica.
Segundo a gestão corporativa do Grupo Chibatão, “a missão de evitar o desabastecimento crítico em Manaus demonstra nosso compromisso com o estado e o legado de nosso fundador, senhor Passarão”.
O papel estratégico do Porto Chibatão
Localizado em Manaus, o Porto Chibatão é uma das principais infraestruturas logísticas da região. Após a retomada, ele foi o primeiro a receber os navios Mercosul Suape e Jacarandá, que iniciaram operações no dia 26 de novembro. A movimentação desses 2.080 contêineres simboliza o início da normalização logística para o PIM e outras operações da ZFM.
O sucesso do Porto Chibatão durante a crise reforça a necessidade de investimentos contínuos em infraestrutura resiliente, que possa suportar condições extremas e garantir a eficiência logística.
Desafios logísticos e infraestrutura na ZFM
Dependência dos rios e soluções temporárias
A navegação nos rios do Amazonas é crucial para o transporte de mercadorias na região. Durante a estiagem, a navegação em trechos críticos foi severamente prejudicada, evidenciando a dependência da logística fluvial. Soluções emergenciais, como o píer flutuante, provaram ser eficazes, mas também destacaram a vulnerabilidade da região.
BR-319: uma alternativa adiada
A BR-319, única ligação rodoviária entre Manaus e o restante do Brasil, permanece inacabada. Sua pavimentação e manutenção são constantemente adiadas, limitando a integração logística da região. As obras previstas para depois de 2026 reforçam a necessidade de diversificação da matriz de transporte da ZFM.
Lições aprendidas e planejamento para o futuro
Investimentos em Infraestrutura Permanente
Especialistas apontam para a necessidade de hidrovias modernas e ampliação portuária em Manaus e Itacoatiara. Essas obras poderiam reduzir a dependência da região de condições climáticas estáveis e fortalecer sua resiliência logística.
Tecnologia e planejamento climático
A integração de tecnologias avançadas, como sistemas de monitoramento climático e hidrológico, pode antecipar crises e permitir respostas mais rápidas. Planejamentos integrados, envolvendo setor público e privado, são fundamentais para mitigar os impactos de futuras estiagens.
Parcerias Público-Privadas (PPPs)
Parcerias público-privadas podem acelerar a implementação de projetos essenciais, como a pavimentação da BR-319, construção de hidrovias e modernização portuária. Essas iniciativas são cruciais para melhorar a competitividade da ZFM no mercado global.
A retomada da logística: um marco estratégico
A chegada dos navios Mercosul Suape e Jacarandá marca um momento simbólico de superação e resiliência para Manaus. A retomada das operações logísticas de contêineres não apenas alivia os prejuízos econômicos, mas também reforça a importância estratégica da ZFM no cenário nacional.
Com a movimentação de 2.080 contêineres no Porto Chibatão, Manaus inicia uma nova fase de recuperação logística, mostrando ao Brasil e ao mundo sua capacidade de superar desafios.
Construindo um futuro resiliente para a ZFM
A estiagem histórica de 2024 revelou tanto as fragilidades quanto a força da Zona Franca de Manaus. A implementação de soluções emergenciais, como o píer flutuante de Itacoatiara, demonstra a capacidade de adaptação da região. No entanto, é fundamental que as lições aprendidas impulsionem investimentos permanentes em infraestrutura e planejamento.
O futuro da ZFM depende de uma logística resiliente, que integre tecnologia, sustentabilidade e colaboração entre governo e iniciativa privada. A superação da crise atual não é apenas uma vitória, mas uma oportunidade de transformar desafios em oportunidades para garantir um crescimento sustentável e competitivo na Amazônia.